ADOLESCÊNCIA: Três aspectos
- TEREZINHA ARAÚJO
- 18 de abr.
- 4 min de leitura
Assisti a série Adolescência e venho refletindo sobre ela a cada dia. Seu impacto em mim foi grande, pensei na minha adolescência, em como será a dos meus netos e em tantos meninos e meninas e suas famílias que estão vivendo esse momento que é tão singular na vida de todos nós.
Quero trazer três pontos que considero importante ressaltar:

MUDANÇAS FÍSICAS, PSICOLÓGICAS E SOCIAIS
A adolescência, talvez, seja o momento mais crítico de toda existência humana. Uma fase desafiadora marcada por muitas mudanças físicas, psicológicas e sociais exigindo imenso trabalho psíquico para a qual na maioria das vezes não se está preparado.
Um período de muita turbulência emocional, marcado por perdas: Do corpo infantil e entrada em outro registro corporal, perda da proteção dos pais, perda de amigos, e principalmente, perda da onipotência, para ver o outro e a si como ser faltoso.
A partir de desidealizações, deverá encontrar novos modelos de identificação que lhe possibilitem o caminhar para realizar escolhas em relação a trabalho, carreira, vida amorosa e tantas outras mudanças que requerem autonomia e maturidade, mas que ainda estão em construção.
Nessa etapa, pais e escola precisam estar presentes, ter um olhar, uma escuta cuidadosa e um diálogo respeitoso e aberto para saber como o adolescente está vivendo essas mudanças e como podem ajudá-los.
ENCONTRO COM A ALTERIDADE E COM O SEXO
A adolescência é também um processo crucial na construção da subjetividade e também um momento em que o encontro com o sexo e com a alteridade se impõe de forma contumaz, e na Série são questões bem trabalhadas.
Este encontro com o sexo apresenta ao adolescente uma nova questão relativa à alteridade: o outro sexo. O adolescente tem que se posicionar como homem ou mulher, e fazer sua escolha de objeto.
A história das pessoas é sempre uma história com a alteridade, o outro, e sempre será complexa, provocando efeitos de sofrimento, amor, inveja, ciúme e competição. Na adolescência ainda mais.
O que era a mulher para Jamie? Como se sentia frente às mulheres? Estariam as mulheres disponíveis para ele, Kate lhe diz: “eu não vou te querer, ninguém vai...”. Ele a queria, mas ela o despreza e o expõe publicamente.
Jamie também não se sente aprovado pelo pai, quando não consegue ser um bom jogador de futebol (sua masculinidade mais uma vez posta em cheque), ele percebe o olhar triste e desapontado do pai, e se cala.
Diante de seu corpo em transformação e dos mal-entendidos familiares causados pelo desligamento gradativo da autoridade dos pais, o adolescente sofre e muitas vezes se isola.
Em Adolescência ambos se calam... ele fechado em seu quarto, talvez se sentindo desamparado e propício a desencadear sua fragilidade na organização psíquica (ainda na busca de aprovação do pai), e o pai que não tem ideia do que se passa com o filho, também se cala, talvez ferido no seu ideal de filho perfeito.
Num quarto fechado não se estabelece as condições necessárias ao processo de subjetivação adolescente. É primordial a observância da qualidade das relações estabelecidas entre pais e filhos.
3 . ADOLESCÊNCIA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
O que vemos hoje são adolescentes fechados em seus quartos, com a permissão dos pais, pois estão supostamente protegidos. Possuem milhares de “amigos”, mas na verdade, estão sozinhos e sendo impactados por todo tipo de influência - são as redes sociais que os moldam, constroem suas identidades, numa hiper conexão digital.
Jamie, um garoto de 13 anos que foi muito, muito respeitado na sua privacidade; ninguém entrava lá, a porta era fechada e ali era ele e a telinha, na sua privacidade, mas também, a um toque de se tornar público.
O adolescente está pronto para toda essa permissividade, tanta autonomia?
Eles se comunicam uns com os outros através de signos, códigos, com significados que somente eles decifram, excluindo os adultos de uma comunicação possível. O acesso à informação é mais amplo, mas também, é um fator gerador de ansiedade, comparações e exposição excessiva.
E a Escola?
A escola é, para o adolescente, um lugar no qual a existência de problemas é inevitável, e na escola da Série, como na maioria de nossas escolas, não há espaço, onde as distintas problemáticas possam ser acolhidas e debatidas.
A série se apresenta muito distinta de outras produções, do mesmo tema, em que sempre há um culpado a ser punido. Nesta, todos são e ninguém é culpado. É uma história “comum” que pode acontecer em qualquer uma de nossas famílias, sem escolher raça, situação econômica ou social.
A problemática adolescente é palco onde as tragédias tendem a se repetir se não for pensada de forma sistêmica. Porque ninguém está preparado para lidar com esse mundo do adolescente, e o universo das redes sociais, no qual eles estão imersos.
Os pais não sabem, a escola não tem sabido, a polícia não tem ideia.
Como agir com o adolescente?
Jamie é um transgressor? Sim. Mas é muito mais um adolescente que ainda não sabe lidar com seus afetos, não regulou suas emoções, um garoto que não quer dizer a verdade ao pai com medo de perder seu amor, um garoto com ódio da menina que lhe deu um fora, e o expôs ao mundo, um sentimento de não pertencimento na escola.
Uma Série necessária e um alerta de que algo urgente precisa ser feito, é preciso falar e ter ações sobre o assunto.
Silenciar o sofrimento só piora o impacto. É fundamental criar espaços seguros para que os adolescentes possam conversar, expressar medo, raiva, tristeza ou confusão sem julgamento. A escola, a família e grupos de apoio têm papel essencial nesse acolhimento.
Um ponto fundamental é que os pais monitorem a que seus filhos estão expostos, que as portas dos quartos estejam abertas, que o diálogo aconteça.
A escola precisa ensinar os alunos a reconhecer, nomear e lidar com suas emoções. Trabalhar empatia, tolerância, diálogo e autorregulação emocional contribui para a construção de uma comunidade escolar mais humana e preparada para lidar com o mundo.
Projetos de prevenção à violência, bullying, uso de drogas e automutilação devem ser constantes e integrados ao cotidiano escolar. A escola também precisa ter protocolos de ação em caso de emergências, garantindo segurança física e emocional para todos.
Mas a escola não pode atuar sozinha. Ela precisa envolver pais, responsáveis e comunidade em geral nas discussões e ações. A construção de um ambiente colaborativo fortalece os vínculos e amplia a rede de proteção aos adolescentes.
Não se esqueça de deixar um comentário, e seguir nossas redes sociais:

Análise brilhante, Terezinha! Eu também assisti à série e considero muito pertinente as reflexões sobre a criação das crianças e adolescentes nesse mundo contemporâneo, que se atualiza rapidamente, exigindo que nós, pais, estejamos presentes de forma ativa na vida dos nossos filhos, com muito diálogo e atenção.
Não assisti ao filme, mas saber que contém na narrativa a visão de que todos estamos envolvidos e somos responsáveis pela vida dos adolescentes, é, realmente,uma narrativa para repensar nossas posturas.