DUAS LUAS
- BETH BRETAS

- 3 de nov.
- 5 min de leitura
SOBRE VALORES QUE ABRAÇAMOS – 1/2

Série Coelho na Lua – T1.Ep.1 – VIKI
“Hoje, neste tempo que é seu, o futuro está sendo plantado. As escolhas que você procura, os amigos que você cultiva, as leituras que você faz, os valores que você abraça, os amores que você ama, tudo será determinante para a colheita futura”.
Sim, o Ano 2025 está plantando o Ano 2026, dentro de um panorama apocalíptico e, neste momento de encerramento de mais um ano, me pus a pensar sobre os últimos quatro anos gravados na Linha do Tempo, onde retrocedi ao inexorável ano 2021 - o ano do IMPLACÁVEL COVID-19 - e, ao entrar nesse túnel do tempo, uma sequência harmônica do meu processo pandêmico gerou esta narrativa iniciada por um sonho que antecedeu experiências reais, onde cada acontecimento era um retorno ao sonho.
O sonho:
Era um jogo, mas um jogo real – eu era um personagem que já havia vencido várias etapas do jogo e naquela, na qual me encontrava, a única coisa que precisava, para continuar, era deixar fluir, o próprio jogo conduziria – chegar a esse ponto do jogo é uma conquista.
E me vi, parada na praia, de noite, céu nublado, ondas indo e vindo... O medo chegando, enquanto algo, como uma consciência, me pedia calma.
Como se estivesse num tobogã, fui lançada para outra fase do jogo, onde senti a paz, a tranquilidade em mim e tive a sensação de que, realmente, não precisava lutar por nada, era só me deixar levar.
As etapas seguintes não eram mais desafiadoras, eu só deixava o jogo jogar, sem me preocupar, porque, quando aceitei isso, dentro da percepção de que não se tratava mais de ser manipulada pelo jogo, me entreguei... ACORDEI!
Acordada, sabia que algo atípico havia acontecido em mim, sem ter noção direito do que era, olhei para o relógio, eram 3h12.
A Meditação:
Era uma boa hora para meditar. Meditei e, durante o processo, senti o silêncio, a paz. Fiquei tão ausente a ponto de não perceber a hora em que anunciaram o fim da meditação. Fui perceber bem depois. Respirei profundamente. Voltei ao normal.
O Filme:
Peguei meu tablete, entrei na Netflix procurando por um filme bobinho para manter-me naquele estado de leveza e encontrei: Amor nos Dias de Hoje.
Uma comédia romântica apresentando uma reflexão sobre: a forma como gostaríamos de viver x a forma como vivemos – uma configuração imposta por uma sociedade que cria padrões e nos rotula.
O sonho me veio à tona e percebi, dentro desse contexto de rótulos e padrões que entramos em 2021 enfrentando o isolamento social, para uns não matarem os outros, por meio de um vírus letal – criado pelo jogo que estamos jogando.
A Descoberta:
Nesse mesmo ano entrou na minha vida, outro vírus abismal chamado Racismo Estrutural. Ele entra pelo lado maternal, provocando desespero e me pedindo postura – e aqui, novamente, uma parte do sonho ficou entendida: eu estava dentro de um jogo, sem saber que jogava, até o momento da descoberta - fim da minha postura de não questionar o sistema.
“As etapas seguintes não eram mais desafiadoras. Quem estava jogando, agora, era o próprio jogo.”
Porque sair do jogo, conscientemente, não é acabar com o jogo, ele continua movimentando o Sistema, porém, estou aprendendo a conhecê-lo, aprendendo a impor limites.
“Há um jogo de forças que imprime o sentido.”
Deve estar tudo muito confuso, para o leitor, mas não sei ainda clarear minhas ideias sobre a consciência teórica de um jogo determinando o valor da moral que, inocentemente, escolhemos viver, mas que fora do jogo se torna uma consciência moral emancipada de um mundo cheio de julgamentos aleatórios, de um mundo que determina verdades, sem se importar com as pessoas.
O Morador de rua:
Por volta de 13h, um homem negro, andarilho cruzou meu caminho, numa esquina de avenida, parando na minha frente, fazendo reverência e um pedido:
- Moça, pode me dar um trocado para tomar banho?
E neste mundo digital de cartões, não tive como ajudar. Ele agradeceu, novamente fez reverência, e seguiu em frente, naquela calçada molhada pela chuva que havia terminado de cair.
Fiquei ali, zumbi, debaixo daquela árvore sombrinha, pensando como o mundo digital nos afasta da humanidade, ao não ter sido capaz de atender aquele pedido – o quanto, hoje, se tornou mais fácil dizer não para quem pede ajuda financeira, morando na rua.
A Moça da região:
De repente, entra em cena uma moça subindo em minha direção e parando ao meu lado, foi dizendo:
- Moço estranho, não?!
- Ele pediu dinheiro para tomar um banho.
- Cruzei com ele. Vou na padaria ali embaixo, mas vou esperar se afastar.
- Nunca ninguém havia me pedido algo assim...
- Mas a vida está tão perigosa, não dá para confiar em ninguém. Eu moro nesta região e aqui, ano passado, estava acontecendo muito assalto. Agora melhorou, pegaram um rapaz cabeludo que agia na região.
- Mas ele só queria um banho...
- Mas por desconfiança, a vida nos faz agir assim, moça, não se atormente. Tchau!
- Tchau! – respondi ainda zumbi.
E, naquela esquina, onde tudo havia começado com um sonho até chegar ao encontro com o morador de rua, me pus a pensar sobre a noite que invadiu o dia, dentro desse contexto:
O sonho / A meditação / O filme / A descoberta / O morador de rua / A moça da região.
Sobre o pedido para tomar banho, de um homem que se sentia sujo, depois de cair uma chuva, no mesmo lugar onde eu e a moça da região também estávamos... Há um trecho em Memórias da Plantação/ Grada Kilomba, que talvez possa ilustrar bem, a presença dessa moça:
... “ser observada e questionada são formas de controle que, certamente, incorpora o poder”.
Dentro da composição de cada personagem aqui, não há quem escape do Sistema - a nossa vida manifestou o vírus letal que alimenta nosso jogo e lembrei-me de uma canção cubana:
“O mercado vende mais do que há para se ver.
O mercado vende mais do que frutas e flores.”
Um mercado capitalista para o qual, no cotidiano, por não enxergamos o que se encontra por trás das vitrines do mercado, não questionamos o caráter do seu poder.
E sobre a passagem do tempo, nada mudou afetivamente no mundo, o ser humano continua a lutar pelo poder a qualquer custo. O mundo continua assistindo cenas de mulheres sendo agredidas, bombardeios sobre hospitais, guerras que nunca terminam, porque o implacável Covid-19 não despertou o sentimento compassivo nas relações humanas.
O mundo continua pandêmico!
Existe um quadro denominado Pergunta, onde duas Luas se destacam de forma diferente: uma tem um coelho dentro, a outra não. Acredito que esse quadro representa duas formas de acreditar na composição da Lua, dividindo as pessoas em duas categorias: as que acreditam em coelhos na Lua e aquelas que não acreditam.
Faço parte do primeiro grupo, porque a presença do Coelho elimina a crença de que não há vida em outros planetas e ser coelho significa fertilidade, abundância, esperança. Ele está associado à Primavera e a sua presença indica renovação de energia, coragem para abraçar os mistérios do mundo e acreditar em outras possibilidades de vida.

Em qual Lua você acredita?
NAMASTÊ!
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Sem dúvida faço parte dos que acreditam que há coelho na lua. Gosto da ideia da fertilidade, abundância e esperança, Sempre haverá espaço para a renovação. Até da humanidade. Parabéns, pela reflexão. Beijocas, Carla Kirilos
Beth, lendo seu texto, pensei: nada é fácil pra ninguém neste mundo atual. Você é barrada até nas boas ações. E pensei também, como Beth cresceu em suas escritas, a prosa principalmente. Sucesso, continue assim.
Que texto é esse, Beth! Maravilhosa esta análise bonita que você faz pelos caminhos da existência e vai encontrando pessoas e intertextualidades pelo caminho. Mas o importante é que você, mesmo trabalhando temas existenciais, seus textos são de uma leveza encantadora. Uma leveza que cura... Ler Beth Bretas me traz uma paz magnífica.
Obrigado por você existir e por você escrever.
JoséFrança
PARABÉNS! Muito bom!!
Adorei!! ADOREI!!!