OS VÍRUS DA MODERNIDADE
- MARIA ANÉSIA

- há 2 dias
- 3 min de leitura

A professora chega à escola onde trabalha, um espaço confortável e atraente. Jardins, quadras para várias modalidades de esportes, biblioteca bem equipada, sala de computadores, uma excelente internet e atividades de interação social como hortas, aulas de pinturas, bordados, crochês, desenhos e outros tipos de artes. Tudo isso direcionado para um ensino de qualidade, alimentação propícia, bons hábitos e respeito às diferenças raciais, crenças e cultura.
Talita, professora renomada, gabarito elevado, ali todos os dias, chega e direciona à sala sete ( 7 ), quer aplicar uma aula de coração e alma. Entra, os alunos, todos bem acomodados, almejam uma excelente aula, produtiva e que os prepara para a vida.
Saúda os alunos, certa de que seu esforço será recompensado com um bom resultado.
-Olá pessoal, a aula de hoje é uma encenação de teatro.
Os alunos encaram Talita com euforia e olhos arregalados.
-Vamos lá, turma. O tema é, "Os Vírus da Modernidade."
Pedrinho, lá no fundo da sala, engraçadinho que é, levanta a mão.
-Professora, hoje quando vinha para a aula, vi um vírus, parecia um monstro.
Os alunos da sala - kkkkkkkkkkkkk…
-Que isso, Pedrinho, você enlouqueceu? Veio atrapalhar minha aula? Vírus é um microrganismo invisível aos nossos olhos. Apenas pelo microscópio pode ser visualizado.
- Não professora, estou falando do vírus humano. Um homem fortão, machão, atacou sua companheira na rua. Era pontapé pra lá, pra cá e seu ódio era distribuído no corpo da mulher. Ela, fisicamente frágil, gritava desesperada, pedindo socorro. Logo, a polícia veio e o algemou.
-Matar mulher hoje em dia, virou pandemia!
Talita põe as mãos no rosto, meu Deus!
Maricota levanta a mão.
- Acredito no que Pedrinho está falando, Talita, o Brasil está contaminado por esses vírus.
Tiãozinho levanta a mão.
-Se esse demônio de homem for vírus, já presenciei outros muito mais contagiosos.
Os alunos batem palmas, gritam:
-Fala, fala logo Tiãozinho.
-Eles andam aos bandos nas praças, nas ruas, nas esquinas e em qualquer lugar. Andem distraídos por aí com celular na mão e depois venham me contar. Outro dia, um homem parou no sinal e abriu o celular, só viu o vulto. Gritei: Compra outro, meu amigo. Eles são tão rápidos como relâmpagos em dias de tempestade.
Talita, espantada com a participação dos alunos diz:
- A coisa está feia, o sangue subiu pra cabeça desses vírus que nem polícia dá jeito. Esses pivetes foram criados na rua, não estudaram, os pais uns cacos, aprenderam o quê da vida, né gente!?
- Alguém mais já ouviu falar desse tipo de vírus?
- Sim, professora, uma legião de anjos do mal, da corrupção se instalou na política. É bandido votando em bandido, diz Carlinha. Até nos computadores essa maldição atormenta.
-Verdade, bem lembrado, Carlinha.(Pedrinho)
- É o maior mal dos séculos XX e XXI. (Tiãozinho)
- Vê lá, Tião, não perde para as drogas. Pior do que o Coronavírus que foi controlado com vacinas. Esse vírus de que falo agora, faz coração de mãe derreter e olhos chorarem lágrimas nas meias noites sem dormir... (Maricota)
O efeito de tudo isso é apocalíptico. E parece que o ser que se diz humano, não tem mais amor. É pais matando os filhos, filhos matando os pais, irmão, parentes, amigos. Por um triz ou por um real, tira a vida de alguém. (Pedrinho)
Talita pergunta:
-Vocês acompanham jornais, leem, se mantêm informados?
- É, para mim, o Rio de Janeiro não é mais a cidade maravilhosa. Nem quero conhecê-la. É a cidade do caos. Quem manda é o crime organizado. Mais organizado do que jogo de xadrez. Lamentável, expandiu de norte a sul do país e ainda atravessa os países vizinhos.
-E aquela operação da polícia que matou cento e dezessete (117) bandidos e quatro policiais. Até que ponto chegou. Dói! (Carlinha)
Talita indignada diz:
-Matar bandido, resolve? Não sei, estamos diante de um abismo, tem solução, pessoal?
- Sim, sim, sim…
Cada aluno do seu jeito dá a partida, em voz firme e forte.
- Acabar com a desigualdade social.
- Educação de qualidade sem doença e sem fome.
- Políticas públicas e sociais.
- Fiscalização em massa, cumprir as leis.
- Empregos e valorização dos trabalhadores.
- Cursos para políticos aprenderem o que é democracia e para os eleitores o que é voto.
- Seriedade das instituições responsáveis pela vida, família, escola, igreja e sociedade. A base dessa pirâmide - os valores e as virtudes tidos como eternos: amor, respeito, amizade, partilha, sinceridade, confiança e o calor humano.
A aula terminou, Talita sentiu que seu objetivo foi alcançado e fechado com chave de ouro. Os alunos mudaram o rumo da aula, mas o texto da peça teatral ficou concluído.
Não se esqueça de deixar um comentário, e seguir nossas redes sociais:





Comentários