SE VOCÊ TIVESSE PODER

SOBRE VALORES QUE ABRAÇAMOS – 2/2

Uma reflexão gerada pelo filme Absolutamente Impossível.

A narrativa aposta na ideia de que a integridade está em só saber jogar o jogo do” poder ter” – mas como é que se chega ao ponto de saber jogar?

Isso, no decorrer da história, vai abrindo a possibilidade de colocar na mão do outro os sonhos da humanidade. O que, ao meu ver, começa, nesse filme, de forma errada quando, aleatoriamente se escolhe alguém para testar o jogo – porque não se adquire poder do nada, “se o poder não corrompe, ele enlouquece”. O poder não pode se tornar uma brincadeira de “faz e desfaz”, nas mãos de quem não se preparou, mas foi escolhido por, simplesmente, desejar poder ter.

E a narrativa vai nos mostrando a necessidade de entender a ideia de ter que saber pedir, para poder alcançar, senão o pedido vem, mas pode não vir do jeito que foi pedido, pelo fato de estar confuso ou com ideia muito aberta.

O filme é uma comédia, ele possui abertura para brincar sem se aprofundar nas questões. Ele apenas abre espaço para reflexões - embora aqui, haja o momento em que o protagonista "cai em si” e começa a cogitar sobre ter mais propósito para receber o "poder ter" e esse algo mais estava em saber exatamente o que pedir e como pedir, porque a Lei Universal é literal, tipo quero ganhar na loteria e acerto alguns números e ganho só R$ 500,00 – não se pode negar ganho aqui, o que não existe é o prêmio integral por não ter sido expressado – quero ganhar o prêmio máximo da loteria.

E esse entendimento de ter que pedir de forma eficaz, levou o personagem a refazer seus pedidos, isso se tornou interessante, quando ele começou a pensar no outro. Nesse momento, descobriu a dualidade que surgia na correção e se decepcionou ao não conseguir lidar com a literalidade das coisas que contém não um único problema, mas inúmeros problemas, dentro de um contexto.

Ele, então, procurou se acalmar em relação às pessoas, quando se vê não vivendo numa mansão, não possuindo uma Ferrari, não conquistando mulheres belas, não trocando de amigos, não abandonando seu cachorro... Não percebe que a humildade dele está nos pedidos próprios de um homem comum: “um corpo de atleta, um pênis considerável”, porque no fundo, como todo mundo, ele só queria ser amado e ser respeitado, dentro de um sistema social que rotula as pessoas.

A narrativa nos surpreende quando transfere o poder para um cachorro e o cachorro responde que se ele tivesse poder, destruiria o poder.

Cabe aqui uma pergunta: Absolutamente Impossível se trata de receber o “poder ter” ou ser capaz de viver irmanamente?

No meu ponto de vista, a narrativa contém as duas ideias. Esse jogo possibilita estabelecer a atmosfera de bem-aventurança para todos e isso não é humanamente impossível, se reformularmos o sistema político que abraçamos. Um sistema que cria minorias, que desvaloriza etnias, que desrespeita a diversidade, que determina que só receberá a visita do Papai Noel a criança que colocar o sapatinho na janela em casa com chaminé – uma sociedade excludente.

Se você tivesse o “poder ter”, em suas mãos, dentro da possibilidade de que todas as crianças merecem presente, o que pediria ao Papai Noel para as crianças que não conhecem casa com chaminé e nascem em manjedoura?

FELIZ NATAL!

NAMASTÊ!

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