RELAÇÕES VIRTUAIS… MAIS ISOLAM QUE APROXIMAM
- TEREZINHA ARAÚJO

- 11 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
A problemática da alteridade começa com a modernidade, quando é estabelecido o conceito de sujeito, pois, para haver conceito de alteridade, é necessário o conceito de sujeito, e na era clássica não havia espaço para a in-dividualidade.

Na filosofia clássica, a descoberta do logos, não traz a dimensão do outro. Mas, o encontro fica no mundo das ideias, o outro real não aparece. A ideia era o que realmente importava. Neste diálogo platônico, o eu e o outro se encontram para não se relacionarem, se “relacionam” através da palavra (logos), não há sujeitos.
A noção de próximo surge na era cristã e promove uma revolução espiritual – o problema do outro passa ser o centro da teologia cristã, a religião como valor real. Aqui, surge o conceito de pessoa, uma vez que Deus se relaciona diretamente com pessoas. Jesus estabeleceu a prática da misericórdia, e esta, leva sempre em consideração a outra pessoa.
Chegamos à pós-modernidade, em que as marcas das relações são a competitividade e ausência de altruísmo, onde o egoísmo é a lei e pilar do império global, onde há um controle exacerbado de um sobre o outro e, ainda, um isolamento do eu em si mesmo.
Vive-se, então, a realidade do eu me basto a mim mesmo,
reduzindo e empobrecendo os sujeitos, estabelecendo comportamentos que, muitas vezes, são mecanismos de fuga, comprometendo enormemente a saúde mental de um número cada vez maior de pessoas.
Temos que sair da arrogância, renunciar às nossas certezas, nos abrir para experiências em que seja possível ver o outro. Isto somente é possível quando nos propomos a ver a nossa própria miséria e a miséria do outro. Escutar o grito interior primeiro, para escutar o grito alheio... Esta é a proposta para relacionamentos mais gratificantes. Mas, tem ficado no âmbito da proposição, pois, na realidade, a cultura do eu não tem permitido tal relação.
É na relação face-a-face, entre o eu e o outro, que se estabelece a proximidade
e a intimidade, mas as relações virtuais estão deteriorando os relacionamentos verdadeiros.
Ser-para-o-outro é a própria condição de constituição da subjetividade emergindo da neutralidade de um haver impessoal e da significação neutra dos entes do mundo no horizonte do ser, em que os seres humanos e sua história não sejam reduzidos a movimentos de likes, coração e outros símbolos que parecem ser uma relação, mas, na verdade, só cria distância entre as pessoas.
Tem me impressionado como as relações atuais são efêmeras e superficiais. Sejam elas, nas relações de trabalho, sociais, ou mesmo nas mais “íntimas" como de casais ou amigos muito próximos. Podemos pensar que isso advém da falta do diálogo verdadeiro, que dá acesso à intimidade, pressupõe a possibilidade de mudanças em todos as direções; vai de reconhecimento de possíveis enganos, a ampliação de visão; de mudança de sentimentos, atitudes e comportamentos a novas formas de ser estar no mundo. “Pois é na intimidade que ocorre a fecundação, tanto física quanto psíquica” (Anton,2020).
Talvez, esteja aí a razão por que muitos jovens não querem ter filhos ou mesmo se casar. “Filho estraga o corpo, é uma violência...” ou “Casamento só se for para morar separados”. Mas, não será que estão é aprisionados em si mesmos? Numa relação narcísica onde o outro é uma ameaça? O amor é, assim, distorcido, transformado em pura sexualidade e pornografia. O nós, deixa de existir. Não há o toque do outro, o encontro, o olhar alheio que nos tira de nós mesmos para sermos seres criativos e dialógicos.
A depressão, a toxicomania podem vir como uma saída pelas drogas (lícitas ou ilícitas),
elas deixam de atuar como fuga e passam a atuar como parceiras. Parceiras cínicas, pois impossibilitam o encontro, primeiro consigo mesmo, e depois com o outro.
Talvez, estejamos precisando olhar corajosamente no espelho, ajustar o foco para nos ver e nos deixar ver. A tecnologia que nos permite maior autonomia, maior desempenho, comunicação a longa distância, aumento do conhecimento e tantos outros ganhos, é a mesma que nos expõe a perdas significativas, como vícios, notícias e sites inverídicos, pessoas toxicas, isolamento e até mesmo suicídio.
“Uma coisa que a tecnologia não pode fazer, que nunca foi capaz de replicar, é a interação de humano para humano”, diz Seegmiller.
E é nesse ponto que devemos estar focados e nunca permitir que nos distanciemos das pessoas e, acima de tudo, de nós mesmos. Que jamais nos deixemos enganar pela cilada de relacionamentos virtuais - que mais pode nos afastar dos outros - e da crença de que nos bastamos a nós mesmos. A ilusão de intimidade e proximidade que estes relacionamentos suscitam, pode se tornar uma armadilha quando passa a ser a única forma de relacionamento.
Precisamos de Deus e de pessoas, pessoas que possamos olhar no olho, face a face, abraçar e sentir o coração pulsar!!!
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Viver a realidade do "eu me basto" é o grande equívoco de quem se sente empoderado,porque o verdadeiro empoderamento passa por nós para chegar ao coletivo.
Namastê!