A ARTE DO ENCONTRO EM TEMPOS DE SOLIDÃO
- TEREZINHA ARAÚJO

- 18 de nov.
- 3 min de leitura

Dizem que a vida é a arte do encontro. Mas, nos últimos tempos, essa arte parece ter se tornado um idioma estrangeiro, daqueles que entendemos de ouvir falar, mas não conhecemos de fato.
Somos seres de relacionamento, feitos de pele, história e desejo e, ainda assim, convivemos com uma estranha dificuldade: a de permanecer perto, de encontrar um amor que não se perca no caminho, de sustentar a presença do outro sem nos sentirmos ameaçados ou insuficientes.
Vivemos cercados de possibilidades, mas empobrecidos de entrega. O mundo acelerado nos ensinou a escolher muito e a investir pouco. A cada gesto afetivo, há um espelho de ansiedade refletindo a pergunta: “Será que vale a pena?”
A psicanálise diria que é o inconsciente falando, repetindo uma história antiga que eu não lembro, mas que vive em mim. Uma história de faltas, desencontros, expectativas que viraram feridas. E então eu percebo: não é só o outro que me assusta — sou eu também. Sou eu quando me vejo desprotegido, quando alguma palavra acerta uma velha cicatriz, quando o amor desperta uma fragilidade que eu me acostumei a esconder até de mim mesmo.
Talvez seja isso que dificulta tanto os encontros hoje: eles nos colocam diante daquilo que evitamos. Amar não é só sentir; é recordar sem saber, como dizia Freud. É reencontrar no outro aquilo que eu perdi, aquilo que eu temi, aquilo que eu desejei e nunca pude admitir direito.
O amor sempre exigiu coragem, entrega, presença e uma disponibilidade interna que muitos de nós desaprendemos de cultivar. Amar exige coragem de se vulnerabilizar. Sem vulnerabilidade, não existe intimidade. É preciso coragem para: ser visto de verdade, admitir fragilidades, pedir, errar, temer, desejar.
Amar sem vulnerabilidade é só convivência funcional, não encontro.
Queremos o encontro, mas tememos o impacto que ele provoca. Porque amar não é só acolher o outro — é também descobrir partes nossas que mantivemos escondidas. É perceber que carregamos medos antigos, fragilidades que não se mostram no cotidiano, cicatrizes que reaparecem diante do menor gesto de intimidade. E nessa exposição involuntária, muitos recuam. Aproximar-se tornou-se um risco emocional que poucos se arriscam a correr.
Talvez seja por isso que encontrar um parceiro amoroso ficou tão difícil. Porque o amor verdadeiro exige tempo, disponibilidade, e estamos cronometrados. Exige conversa, e estamos distraídos. Exige falha, e buscamos o perfeito. Exige entrega, e tememos perder o controle.
Mas, paradoxalmente, seguimos desejando. Desejamos o toque que rompe a solidão, o olhar que nos reconhece, que nos revela, a companhia que nos devolve ao mundo com mais leveza. Somos, apesar de tudo, seres do encontro, não só no sentido romântico, mas também no sentido humano, profundo. Aqueles que só se tornam inteiros quando atravessados pela presença do outro.
Talvez a arte do encontro esteja adormecida, não perdida. Talvez ela peça apenas que desaceleremos, que desçamos a guarda, que aceitemos o fato de que amar nunca será simples e que é justamente nessa complexidade que a vida se torna habitável.
Certamente tem um pedaço em nós que cansa dessa defesa toda.Um pedaço que quer parar de repetir velhas histórias, que quer um encontro sem tanto medo, sem tanta interpretação, sem tanta armadura. Que quer, simplesmente, que alguém fique, e que consigamos ficar também.
No fim, percebo que o amor não falta. O que falta é coragem para suportar o que o amor desperta.
No fim, não é que falte amor. É que falta coragem de permanecer onde o amor realmente acontece: no espaço frágil e luminoso entre dois mundos que se tocam.
E eu, sigo tentando… entre lapsos, resistências e pequenos avanços. Na esperança de que, um dia, eu consiga não apenas desejar o encontro, mas sustentá-lo.
Até Breve!
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Desistir de amar? Nunca! De dar e receber vivendo e rodando todo o bambolê que os relacionamentos apresentam para nós. Valeu! Beijocas, amiga. Carla Kirilos
É que o amor nunca foi se deixar levar e até o momento ainda não é se entregar.
Namastê!
Interessante, né? Desejamos, mas idealizamos; e, ao idealizar, perdemos a oportunidade de viver algo que poderia ser visceral, com todas as suas nuances que nos levariam ao crescimento. Que pena!