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UM ENCONTRO INESPERADO: EXPECTATIVAS E FRUSTRAÇÕES

  • Foto do escritor: TEREZINHA ARAÚJO
    TEREZINHA ARAÚJO
  • 11 de ago.
  • 3 min de leitura
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Expectativas

Expectativas são construções psíquicas, emocionais e cognitivas que fazemos em relação a um futuro em qualquer área, em relação aos outros ou a nós mesmos. 


Elas envolvem uma mistura de desejo, previsão, crença e necessidade. Esperar algo de alguém, de uma situação ou de nós mesmos é uma maneira de organizar o mundo interno diante das incertezas da realidade; uma necessidade de ter o controle sobre algo que julgamos necessário e que desejamos muito, uma tentativa de controlar o incontrolável. Ao esperar que algo aconteça de uma certa maneira, buscamos reduzir a angústia frente ao imprevisível, ao incontrolável. 


Expectativa, nesse sentido, é uma tentativa de dar forma ao desejo, de traduzi-lo em imagem, em projeto, em narrativa. Um modo de imaginar o futuro é nos projetar nele e viver emocionalmente, cognitivamente, chegando até a sentir fisicamente o que está por vir. Essa função pode ter, por um lado, valor adaptativo pois permite planejar, tomar decisões e nos proteger, mas também há um tanto de fantasias que muitas vezes são da ordem apenas do desejo infantil e muito pouco factíveis, dado que podem estar bem fora da realidade em que se está inserido de fato.


Expectativas e Frustração

Toda expectativa carrega consigo a possibilidade da frustração. 


Isso não é necessariamente negativo. A frustração é parte do crescimento psíquico, nos ajuda a lidar com a falta, a aceitar o outro como diferente de nós, a lidar com as diferenças, diversidades e a desenvolver recursos internos para viver o mundo real, e não apenas o ideal.


A frustração, neste viés, é um motor do desejo. Freud já mostrava que o sujeito precisa aprender a adiar e lidar com a falta, o que ele chamou de princípio da realidade. Quando uma expectativa não é atendida, somos convocados a revisar nossa fantasia, reconhecer a alteridade do outro, construir novas formas de satisfação que não dependam totalmente de uma resposta externa.


 A frustração, embora dolorosa, tem também uma função estruturante de nos obrigar a criar, inventar novos caminhos, deslocar o desejo para outros objetos, rever nossas próprias posições. Sem a frustração, não haveria movimento psíquico, ficaríamos presos numa ilusão de completude que, paradoxalmente, nos paralisaria.


Expectativas Amorosas 

Vamos pensar a expectativa amorosa, para exemplificar o binômio expectativa e frustração.


Para a psicanálise, o amor raramente é apenas racional ou emocional. Ele é atravessado por fantasias, desejos infantis e idealizações.


No encontro amoroso idealizamos o parceiro. No início de uma relação, é comum projetarmos no outro uma imagem perfeita, como se ele fosse capaz de preencher todas as nossas lacunas emocionais, nossa incompletude. Isso está ligado ao narcisismo, onde buscamos no outro aquilo que nos falta.


Se avaliarmos bem nossas escolhas amorosas, vamos identificar repetição de padrões infantis, onde muitas expectativas vêm das nossas primeiras relações com nossos pais. Um exemplo bem simplório, mas que ilustra: uma criança teve uma mãe que atendia suas necessidades imediatamente, como adulta pode esperar o mesmo de um parceiro amoroso.


Freud via o amor como uma tentativa de reencontrar um estado perdido de plenitude. Isso gera expectativas irreais de que o outro nos complete, o mito da metade da laranja.


A frustração surge então quando o parceiro não corresponde à imagem idealizada que projetamos. Quando percebemos que o outro tem falhas, limites e diferenças, sentimos dor, sentimos a frustração de nossa fantasia quebrada e aí dizemos que ele nos decepcionou, mas na verdade houve um choque entre a idealização e a realidade. Nesse momento nega-se a realidade, podendo chegar a comportamentos regredidos de “birras” ou isolamento. Entra em cena o amor e o ódio, o é bom e é mau, é a ambivalência gerando conflitos internos e na relação.


Se vamos para o trabalho analítico, nele não se busca “matar” as expectativas - isso seria impossível, pois desejar e esperar são próprios da condição humana. O que se busca é torná-las conscientes, menos aprisionadas à fantasia infantil e mais ajustadas à realidade, abrindo espaço para o encontro genuíno com o outro e consigo mesmo.


O amadurecimento emocional acontece quando se reconhece que, o outro é um sujeito independente, não um objeto para satisfazer nossas demandas. O amor maduro envolve aceitação da falta, da diferença e da imperfeição. 


A frustração é necessária para o desenvolvimento emocional, ela nos obriga a sair da fantasia e entrar em contato com a realidade afetiva. Ela não é o fim do sonho, mas o lembrete de que o desejo vive na falta. 


É nesse intervalo entre o que esperamos e o que encontramos que a vida acontece e se reinventa.





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4 comentários

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José França
19 de ago.
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É sempre bom ler sobre Freud. Ainda mais saber que as frustrações são necessárias para que possamos reinventar a vida sequencialmente.

"O amadurecimento emocional acontece quando se reconhece que, o outro é um sujeito independente, não um objeto para satisfazer nossas demandas. O amor maduro envolve aceitação da falta, da diferença e da imperfeição." 

Quantas pessoas precisavam saber disso?! Se todas as pessoas tivessem conhecimento desta verdade feudiana, com certeza, o número de pessoas felizes nos relacionamentos amorosos aumentaria muito.


Lindo texto, Terezinha.

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Convidado:
13 de ago.
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Acredito que nós, os seres humanos, ainda não aprendemos a amar, ainda não entendemos que amar o outro é,acima de tudo, uma opção de quem escolheu o outro para amar...

Namastê!

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
12 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Que beleza de texto, Terezinha! Por mais que tentemos não criar expectativas, não somos completamente imunes e, por vezes, nos frustramos. No entanto sempre é possível nos reinventar e, nos intervalos, recarregar as baterias! Que bom!

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Convidado:
12 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

“É nesse intervalo entre o que esperamos e o que encontramos que a vida acontece e se reinventa.” Dou graças por estes intervalos porque senão a vida seria muito sem graça.😜 Beijocas, Carla Kirilos

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