DEZEMBRO

A chuva forte cai lá fora. Agradeço a Deus a casa segura e peço pelos que, no mesmo momento, correm da morte fugindo de suas próprias casas. A chuva vem, lava tudo, às vezes leva tudo de quem pouco tem, porém traz a fartura na lavoura e o renascimento dos rios. Então, que venham  abençoadas chuvas.

Não tem jeito. Dezembro traz melancolia. Presa dentro de casa, hora de faxinar todos os cantos e de me horrorizar como fui acumuladora este ano. Sempre bate aquele dilema: recordação ou doação?

Descubro que bebi na mesma fonte que meus pais e avós: quero reter o tempo nos brinquedos, roupinhas, cadernos e livros da infância longínqua das minhas crias. Mas vou me desfazendo aos pouquinhos e aumentando a cota das doações. Não sem derramar algumas lágrimas, porque, afinal, não somos todos prisioneiros do tempo?

Ainda bem que montar a árvore de Natal e o presépio ainda são eventos festejados. Sou do interior de Minas, de Jaboticatubas, e foi lá que aprendi a montar meu presépio: animaizinhos, pequenos brinquedos, objetos que um dia foram amados pela família fazem parte de um cenário que tem, como principal ator, o menino-Deus, que ocupará um lugar de destaque, em meio a todas aquelas lembranças no alto de uma colina. A seu lado, surge bela e iluminada árvore para nos ajudar a celebrar a vida, as conquistas, as dificuldades passadas e nos lembrar de que quem mais deve brilhar é o menino Jesus, que só será colocado no presépio à meia-noite do dia 24 para 25 de dezembro, seu nascimento.

De repente, Simone ataca:

“Então é natal,

e o que você fez?”...

Não tem como não rir desse meme, afinal todo ano nessa época, a música toca à exaustão, mas ela cumpre seu objetivo: buscar lá na memória aquelas remotas e esquecidas resoluções de Ano-Novo. Sofro.  O que estava desejando?

Não emagreci um grama,  mas aprendi e servi à minha família receitas deliciosas. Porém, tenho a meu favor: abandonei o sofá e passei a praticar atividade física quase que diariamente. Hoje sou atleta do Câmbio, um jogo para quem tem 50 anos ou mais.

Não agi como Ebenezer Scrooge, personagem de Dickens, avarento e sovina,  portanto não economizei o tanto de dinheiro que queria, mas guardaremos para sempre as maravilhosas viagens que fizemos em família.

Fundei um clube de leitura com os atletas que jogam Câmbio comigo e participei de mais 7 grupos de leitores. 

Conheci novos amigos e celebrei os antigos, mas bem menos do que gostaria. 

Lancei um livro que tem feito muito sucesso  e li outros 44.

Quanto à escrita, esse foi um ano que procrastinei muito, mas agradeço ao blog Bendita Existência por me lembrar que escrever é preciso e de cumprir com as datas. Nada como ter um incentivo desses.

Então, fiz um afago em minha cabeça, já pensando na minha lista de resoluções vindoura.

Que em 2026 não deixemos de sonhar, mas sejamos gentis conosco, porque o tempo cobra seu preço, porém a vida é boa. 

Como nos disse Guimarães Rosa:

“A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Bora viver e ser feliz, mas com ânimo e determinação.

Feliz Natal e próspero Ano Novo para todos.

Grande abraço!

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