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FILHOS DE SILICONE, CORAÇÕES DE PEDRA?

  • Foto do escritor: CARLA KIRILOS
    CARLA KIRILOS
  • 2 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 1 de jul.

Reflexões sobre uma sociedade que está trocando relações reais por afeto simulado.


Quem me conhece sabe: dificilmente deixo passar um tema que estampa as manchetes sem antes parar para refletir — e escrever sobre ele. Gosto de olhar além do que aparece na superfície. Este é o caso da tendência que tem ganhado espaço nas redes e nas ruas: adultos adotando bonecos hiper-realistas como se fossem filhos.


Pode parecer exagero, mas não é ficção. Está acontecendo.


E mais do que causar estranheza, isso nos obriga a fazer uma pergunta urgente:


O que está acontecendo com os nossos vínculos reais?


Este é o tema do meu texto de junho para o Blog Bendita Existência. Vamos à leitura?


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Um olhar para o inusitado.


Imagine a cena: uma mulher empurra um carrinho de bebê em um shopping. Ajeita o gorro do "filho", conversa com ele, dá mamadeira e posta no Instagram: “Meu bebê dormindo como um anjo.” Mas o bebê não respira. Não chora. Não cresce.


É de silicone.


Se parece absurdo, é porque realmente nos choca — e ainda assim, essa cena é cada vez mais comum. Os chamados bebês “reborn”, bonecos hiper-realistas, estão sendo tratados como filhos por centenas de pessoas no mundo todo. E isso levanta uma pergunta inquietante:


Estamos substituindo relações humanas por vínculos artificiais?


A solidão virou norma?


Vivemos cercados de telas, mensagens instantâneas e milhares de seguidores, mas a verdade é dura: nunca estivemos tão sós.


Os “reborns” surgem, muitas vezes, como um “alívio” para essa solidão: eles não frustram, não contradizem, não exigem convivência. São “filhos” ideais — silenciosos, obedientes e eternamente pequenos.


Mas ao nos ligarmos afetivamente a algo sem vida, será que não estamos esquecendo como se relacionar com quem respira, sente, erra e perdoa?

Maternidade idealizada ou fuga emocional?


Muitos justificam o uso dos “reborns” como forma de terapia: perdas gestacionais, infertilidade, envelhecimento. E sim, em alguns casos, há espaço legítimo para o luto simbólico.


Mas quando o símbolo se torna substituto, o risco é alto: rompemos com a vida real.


Amar o outro — o filho verdadeiro, o cônjuge, o amigo, o vizinho — é arriscado. Dá trabalho. Exige paciência, perdão, entrega. O amor real convive com o erro e com o incômodo. Já o boneco... só exige fantasia.


Há uma indústria do afeto artificial.


Os “reborns” fazem parte de um mercado lucrativo. Existem modelos com “peso real”, cheiro de bebê, roupinhas personalizadas, e até “certidão de nascimento”.


Estamos transformando o afeto em produto. Estamos simulando emoções ao invés de vivê-las.


Mas há uma Palavra que confronta!


A Bíblia lança luz sobre esse momento que vivemos. No livro de Ezequiel, encontramos uma promessa poderosa:


“E lhes darei um coração novo, e porei dentro deles um espírito novo; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne.” (Ezequiel 36:26)


Deus não nos chama para amar bonecos. Ele nos chama para amar pessoas reais. Com todas as suas imperfeições.


Um coração de carne chora, sente, sofre — mas também ama, perdoa e recomeça.


Bonecos não erram. Mas também não vivem.


Reflexões que ficam...


Que tipo de maternidade estamos idealizando?


Estamos dispostos a amar sem garantias?


Quantas vezes trocamos a convivência real por conexões controladas?


Talvez os “reborns” não sejam a causa, mas sim o sintoma de uma sociedade ferida, carente, e muitas vezes apavorada diante do outro.


Vamos pensar?


Este não é um texto de condenação. É um convite à reflexão.


Talvez você conheça alguém que tem um “reborn”, talvez você mesma já tenha sentido o peso de um vazio emocional tão profundo que buscou consolo onde deu para encontrar.


Mas o que eu proponho aqui é um olhar mais fundo:


Estamos dispostos a amar com risco e verdade — ou vamos nos esconder atrás de vínculos que só existem na aparência?


Comente, compartilhe, reflita.


Vamos juntos transformar essa sociedade fria e performática numa geração com corações de carne.





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11 comentários

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Convidado:
28 de jun.

Há textos que, ao primeiro olhar, remetem-nos a memórias afetivas, a aragens esquecidas, à literatura, a artes, a diferentes culturas e ao conhecimento de forma geral. Mas o texto de Carla, Filhos de Silicone, Corações de Pedra, fez-me viajar ao a final do século passado. Os anos eram 1996 a 1997 quando o escultor hiper-realista australiano Ron Mueck chocou o mundo com uma exposição toda trabalhada em silicone nomeada de Dead Dad (Papai Morto). Passados quase 30 anos, os trabalhos em silicone ainda causam impacto, os "reborns" vieram para justificar este efeito, pois, como na reflexão da autora, é tênuo o fio entre a criação artítica e a vida real.

Parabéns, Carla.

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10 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Demorei para comentar porque, desde que li seu texto pela primeira vez, estou a pensar. E quanto mais penso mas concluo que nossa sociedade está muito adoecida e carente. As pessoas precisam uma das outras mas não conseguem pedir ajuda. E daí, tentam preencher suas carências com bonecos. Que tristeza! Belo texto, Carla! Idalina

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Ilma
04 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Ah! Que tempos são estes? Seu texto, Carla, como tantos outros sobre esse assunto, me dá um nó na garganta. Acredito muito no ser humano e espero que esse seja só mais um modismo, e que as pessoas aproveitem melhor a vida e as pessoas de verdade.

Parabéns pela reflexão.

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
03 de jun.

Belo e pertinente texto, Carla! Tal reflexão me leva a pensar que vivemos tempos onde as pessoas, cada vez mais solitárias, com medo de encarar tanto a solidão, como os desafios das relações, buscam formas de escapar tanto de um quanto do outro. E nesse não se permitir os riscos, se aprisionam em ilusões.

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Convidado:
03 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Carla, acho incrível como você consegue conectar tão bem os fatos atuais com referências bíblicas. Achei esta sensacional: “E lhes darei um coração novo, e porei dentro deles um espírito novo; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne.” (Ezequiel 36:26). Retrato exato de grande parte da sociedade atual. Muito bom! Ângela

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