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SAIR DO CASULO: UM VÔO INCERTO

  • Foto do escritor: JEFFERSON LIMA
    JEFFERSON LIMA
  • 7 de nov.
  • 3 min de leitura
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A minha filha tem dezessete anos. Enquanto escrevo estas linhas, ela está tensa e se preparando para as provas do ENEM — o Exame Nacional do Ensino Médio —, que já está às portas.


Cá com os meus botões, penso que é pouca idade para decisões tão importantes em relação ao futuro. Aos dezessete anos, a pessoa precisa escolher uma área de formação, acreditando definir, assim, o seu futuro profissional e, consequentemente, os rumos da própria vida.


Durante as várias conversas que temos, tentando aliviar sua ansiedade — que se manifesta até mesmo em reações físicas —, reflito sobre os caminhos da nossa frágil humanidade.


Num mundo em que tudo se modifica rápido demais — seja nas visões de mundo, cada vez mais imediatistas, polarizadas e menos lógicas; seja nas questões tecnológicas, em que as IAs são apenas a ponta de um iceberg gigantesco —, e em que as escolas e universidades não conseguem acompanhar o mesmo ritmo, sobram pessoas se redescobrindo e partindo para uma transição de carreira.


As escolas são um capítulo à parte, sobre o qual caberia um texto específico. No entanto, é pertinente abrir um parêntese para destacar a importância de se estabelecer um projeto educacional verdadeiro em nosso país, que busque resultados consistentes a médio e longo prazo, independentemente das sucessões de siglas no poder. Do contrário, continuaremos enxugando gelo, enquanto ele se derrete e escorre por entre os dedos.


Já a transição de carreira é uma saída bastante digna para quem se frustrou com a escolha adolescente e viu a possibilidade de se re-organizar, se re-inventar e se re-colocar. Alguns irão se acomodar, não por inércia, mas devido às dinâmicas que a vida lhes impôs. E haverá aqueles que transferirão parte de seus ganhos para os coaches, em busca de soluções milagrosas, ou para a indústria farmacêutica, que lucra cada vez mais com as vítimas de burnout, provocado pelas demandas insanas deste mundo capitalista que coloca todos numa luta pela melhor performance, com metas cada vez mais desafiadoras.


Sim, estou ciente de que toda essa preocupação e constatação fazem parte apenas das inquietações de um pai que percebe que a filha cresceu e está prestes a sair do casulo para enfrentar a vida com base em suas próprias escolhas. Mas entre as minhas muitas elucubrações e incertezas, está o mundo que estou entregando para que ela viva e explore.


O jovem que hoje sai da adolescência encontra, na vida adulta, um ambiente completamente relativizado: um cenário de intolerância disfarçada de aparente liberdade, em que o parecer tem mais valor que o ser.


É esperado que as pessoas se moldem para se encaixar em uma das muitas caixas disponíveis, com rótulos específicos. Os preconceitos são velados, porém presentes. Um pensamento cada vez mais polarizado e segmentado divide famílias, amizades e ambientes de convívio.


As ruas são cada vez mais violentas. Não se sabe de onde vem o tiro – se da polícia, se das milícias ou das facções. Estão todos do mesmo lado, mesmo quando se dizem opostos: o alvo é sempre o cidadão que passa distraído, ou se tranca, refém na sua prisão domiciliar.


Os políticos, cada vez menos confiáveis, não representam aqueles que os elegem; e as religiões, que deveriam re-ligar as pessoas a Deus e umas às outras, caem cada vez mais no abismo do descrédito, do oportunismo e da incredulidade.


Me gabo de estar criando minha filha com pensamento crítico, sedenta por informações e ciente de onde obtê-las. Mas de que adianta ser uma pessoa bem-informada e com senso crítico, quando se vive num mundo em que as falsas informações já têm pedigree — fake news — e maior credibilidade para a maioria das pessoas?


Será que já podemos considerar o horrível filme Idiocracia uma obra distópica e profética?

A minha torcida é para que os jovens que, tão cedo, precisam escolher uma área de estudos acadêmicos e suas futuras profissões, sejam felizes, encontrem seu propósito de vida e tenham oportunidades que não lhes suguem a alma.


Que assim seja.





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18 comentários

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Vinicius Gabriel
Vinicius Gabriel
15 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Bem haja! Suas reflexões são precisas. Eu mesmo já estive nesse lugar que o texto descreve: o jovem recém-saído do ensino médio, cheio de sonhos, inquietações e inseguranças.

O choque com a realidade, porém, costuma ser duro. Na maior parte das vezes, crescemos levando pancadas injustas, desiguais e opressoras — e nesse impacto vamos seguindo.

Seu texto evidencia com clareza alguns dos desafios que herdamos do mundo contemporâneo. Penso especialmente no grande desmonte que o universo do trabalho vem sofrendo historicamente, processo que desemboca na precarização que vivemos hoje. Diante disso, até a expectativa em torno do ensino superior fica à mercê de incertezas e frustrações.

São muitos problemas acumulados ao longo do tempo.

Você afirma com razão: o raciocínio…

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
15 de nov.
Respondendo a

Feliz pela sua leitura e reflexão, que me remete a outros e necessários devaneios. Sucesso, meu caro!

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Beto Nicou
Beto Nicou
10 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Esse texto do Jejerson Lima me pegou de jeito. Mesmo não sendo pai, senti o peso da reflexão, essa cobrança absurda que recai sobre os jovens para decidirem o rumo da vida tão cedo, num mundo que parece cada vez mais sem rumo. Ele mistura crítica social com uma sensibilidade rara e, no meio do caos, ainda sobra espaço para esperança. Que essa geração consiga se encontrar sem perder a alma no processo. E que, logo à frente, haja versos, não só metas, não só boletos, mas poesia para equilibrar o concreto.

Abraço!

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
11 de nov.
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Que assim seja, meu amigo! Abração!

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Sônia Maria Alves Reus
10 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Excelente texto. Reflexivo e atual.

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
11 de nov.
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Gratidão, Sônia!

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Convidado:
10 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

É sempre tão difícil a hora em que nossos filhos precisam provar para eles mesmos que são capazes de serem aquilo que a sociedade define como ideal, caso contrário…

Namastê!

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
11 de nov.
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Exatamente esse o espírito, Beth! Até adquirirem confiança e segurança, se vão uns bons anos, não é mesmo?!

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Conceição Lofiego
10 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Excelente texto! É de extrema importância demonstrar aos jovens que independente das suas escolhas, nós responsáveis por eles estejamos presentes acolhendo e apoiando. Você faz isso. Fique tranquilo.

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Jefferson Lima
Jefferson Lima
11 de nov.
Respondendo a

Obrigado pelo carinho, Conceição!

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