top of page
Blogs.png

MOMENTOS VAZIOS EXISTEM?

  • Foto do escritor: BETH BRETAS
    BETH BRETAS
  • 4 de jun.
  • 4 min de leitura

ree

Foi o que me pus a pensar embalando caixas, fechando caixas - preparando minha mudança - e me deparando com a máscara branca, sem olhos, tão linda, em minhas mãos.


Nessa hora, as máscaras invadiram minha cabeça e fui parar na Idade Média, num salão fantasioso e cheio de glamour – época em que elas representavam, tanto nas tragédias como nas comédias, o não revelado ou camuflado na identidade das pessoas...


 E talvez esteja aqui o motivo pelo qual, elas continuem sendo opções na vida contemporânea, seja para corresponder ao que se espera de alguém ou seja para salvar-se de um mundo pandêmico...


Em qualquer situação, elas tecem histórias de perdas e ganhos.


“Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.” – Lya Luft


E sobre máscaras tecendo histórias, em época de pandemia, lembrei-me de uma agora:


A consulta atrasou e saí correndo para pegar o 1º ônibus que, também atrasou, enquanto a espera ia acumulando pessoas, a ponto de me fazer perceber que elas estavam sem máscara e eu também... 


Havia esquecido a minha no consultório.


Um instante desesperador cruzou o momento. Passei a me sentir desprotegida. Não reconhecia a desobediência das pessoas, não me sentia segura naquele ponto e fui em busca de máscara, com a noite se aproximando.


Entrei numa rua, onde havia pouco comércio e somente um carrinho de lanche foi indicado como opção de compra de máscara - onde uma senhora, sem máscara, atendia:


- Boa tarde! Por favor, uma máscara!


Outro cliente se posicionou ao meu lado, a senhora o atendeu e eu me senti no vácuo.


- Senhora, por favor, uma máscara!

- Ah! Esqueci de dizer que acabou.


Atravessei a rua e entrei numa lateral que me levou a outra rua sem comércio, cheia de prédios, onde somente um rapaz saiu e retornou, como alguém que tivesse esquecido alguma coisa... 


Dei um giro de 360º e me senti totalmente vazia.


Não reconhecia o lugar, não sabia voltar para o ponto de ônibus que me levaria para casa – onde deveria estar naquele momento – e para complicar um pouco mais, ainda não havia baixado o aplicativo do Uber - se tivesse o aplicativo, não estaria perdida, desesperada e não retornaria para casa para escutar sermão dos meus filhos que, nessa hora, não tive coragem de pedir para enviarem um Uber.


E, ao pensar que poderia ter me contaminado, mais perdida ficava. 


Os momentos se transformavam numa sequência de momentos vazios, onde qualquer tentativa de encontrar uma saída era outro momento perdido.


Abafei o gritou de MEU DEUS! Respirei fundo e disse a mim mesma: 


CALMA! Agora é você e você! Não deixe a falta de máscara sustentar esse momento, porque você já sabe:


“As coisas são somente a parte física dos pensamentos

E os pensamentos são a parte das coisas.” – Osh


Você já entendeu que em momentos de insegurança, as coisas e pensamentos são apenas pedaço de coisas...


Comecei a somar conhecimentos e lembrei-me de Monja Coen: 


“...nos manifestamos de acordo com o momento e a experiência pela qual passamos...


Veja uma mesa, por exemplo, o pé é a mesa? Não! O pé não é a mesa.


A tábua de cima é a mesa? Não! A tábua não é a mesa. Portanto, a mesa é vazia da ideia de mesa, uma vez que dividida em partes, nenhuma delas é a mesa.”


Então, eu perdida num momento, sou apenas um pedaço de mim perdida.


Entender e apreciar esses momentos perdidos, aparentemente, como uma pequena parte do nosso contexto, riquíssima de todas as possibilidades, talvez esteja aqui o grande desafio de quem se sente perdido.


E independentemente da lógica ou não, meu texto começou com máscara em minhas mãos e terminou sem máscara... Porque entre o início e o término, surgiram muitas reflexões.


Entre a Idade Média e a Idade Contemporânea, o mundo deu mil voltas e numa delas, eu nasci.


Entre o que percebemos e o que não percebemos, o mundo gira, centrado num eixo que não gira e está tudo certo, pois ninguém está de ponta cabeça.


“... entre a mesa e o teto há um espaço. O ser humano percebe a mesa e o teto, mas não percebe a distância entre eles. A preciosidade desse espaço cheio de nêutrons, prótons e elétrons e o fato de não vermos essas partículas, como não vemos as partículas que estão voando num raio de sol, não nos dá o direito de dizer sobre vazios.”


Assim, neste texto que, aparentemente, apresentou um fim nada a ver com o início, algo se intercalou entre a Idade Média e o Contemporâneo e surgiu uma reflexão sobre o vazio que abriu outro leque aqui:


Momentos vazios e momentos perdidos são a mesma coisa?


“A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio

do que do cheio.

Falava que os vazios são maiores

e até infinitos.”

Manoel de Barros


NAMASTÊ!





Não se esqueça de deixar um comentário, e seguir nossas redes sociais:





ree

9 comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
Convidado:
20 de jul.

As máscaras... Elas existem. Mas as metafóricas são bem mais cruéis. Aquelas que a sociedade nos impõe. Muitas vezes somos obrigados a usá-las porque o nosso verdadeiro rosto pode ser entendido como ofensivo, ultrajante para um sistema imbecilizado. Continuaremos todos usando máscaras neste mundo carnavalizado. PARABÉNS.

Curtir

Ana Carolina Bretas Lucas
15 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Eu amei!♥️

Curtir

Maria Anésia
07 de jun.

Momentos vazios existem? Creio que muitos vão dizer que sim e outros que não. Direi que sim. Depois da Pandemia de COVID ou mesmo hoje ( idade Contemporânea) a sociedade perdeu muitos valores que a leva a diversos tipos de vazios. Um deles é a distância do calor humano. Desse ficar pertinho, conversar, sorrir juntos, olho no olho, um carinho especial que ficaram lá atrás. Digo que essa necessidade do ter, do ser, do celular e outros obrigam o ser humano a se comportar de maneira vazia. Os pais trabalham o dia inteiro e na maioria deles, às vezes, não tem um minuto para os filhos. Amigos e parentes apenas nos celulares. E mesmo juntos em uma r…

Curtir

Convidado:
05 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Interessante como temos medo do vazio. Essa necessidade de nos sentirmos preenchidos de alguma coisa. O vazio dá pânico porque precisamos nos sentir pertencentes, necessários, importantes, insubstituíveis. O vazio é o contrário de tudo isso, né!!!

É a própria leveza da existência. A gente somente está aqui no momento presente, sem precisar de nenhum rótulo. Ser é muito intenso.

Curtir

Convidado:
05 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Miga, pergunta interessante e difícil de ser respondida. Bom, esses momentos não são a mesma coisa, pois podemos falar que os momentos perdidos nos levam, nos transportam a momentos vazios. Repare que o vazio das caixas e a pretensão de enchê-las , nos reporta a uma situação, a uma pretensão de preencher um momento vazio, porque nos aproxima do pensar em momentos que resultaram em perdidos. Contextualizar cada objeto: caixas, máscaras, especificamente neste texto, faz-nos refletir sobre: cada momento que vivemos em vão ou perdidos, resulta em situações triviais, corriqueiras, enfim em momentos vazios.

Curtir
bottom of page