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SOBRE O APAGAMENTO DE MULHERES

  • Foto do escritor: ILMA PEREIRA
    ILMA PEREIRA
  • 16 de jun.
  • 3 min de leitura

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Quem foi Aníbal Machado? Minha filha me pergunta ao passar por um viaduto na avenida Cristiano Machado.


Esta simples pergunta me trouxe uma reflexão: o apagamento da mulher na história ou a diminuição do seu papel  só  passaram a ser percebidos como problema há pouco tempo. Uma situação da qual nos damos conta aos poucos, percebendo que, nos relatos oficiais, nós, as mulheres, sumimos e, quando mencionadas, aparecemos apenas em papéis coadjuvantes – amantes, esposas, mães, irmãs, enfim, como um detalhe de menor relevância da narrativa.


Uma rápida pesquisa me revelou que, de onze viadutos, localizados na avenida Cristiano Machado, em Belo Horizonte,  e batizados com nomes de ilustres escritores mineiros, apenas um leva o nome de uma escritora, Henriqueta Lisboa. 


A mineira Lúcia Machado de Almeida, que escreveu “O escaravelho do diabo”,  tão famoso quanto “O caso da borboleta  Atíria” e diversos outros livros que foram eternizados na coleção Vaga-lume, embora  tenha impactado e muito a vida de milhares de leitores, sempre é citada como a irmã de um político que foi candidato à presidência da república, Cristiano Machado —  uma das avenidas mais famosas de Belo Horizonte leva seu nome — e também como irmã de Aníbal Machado, escritor e médico, homenageado com viaduto e rua. 


Procuro na memória alguma avenida, praça ou um viaduto com o nome de Lúcia Machado de Almeida, mas não encontro. Caso algum leitor saiba, me conte.


Responda-me: se você fosse um escritor ou escritora e, para publicar, você tivesse que usar um pseudônimo, você publicaria dessa forma ou guardaria um bom  dinheiro para publicar de forma independente? Continue a ler e você vai me entender.


Na sua adolescência, você leu um livro da autora Mary Joseph? Acredito que não, porque esse “quase” foi o pseudônimo de uma das maiores, mais injustiçadas e esquecidas autoras brasileiras de todos os tempos. Essa escritora, muito incentivada pelo marido, quis começar a carreira usando como pseudônimo um nome pomposo, em inglês, porque certamente lhe disseram que seu nome de batismo — a junção dos dois nomes mais simples do Brasil —  não faria sucesso. 


Então, quando o editor rejeitou o seu nome e seu pseudônimo,  seu marido gentilmente deu a seguinte sugestão:  que ela publicasse sob o pseudônimo de Senhora Leandro Dupré. Pasmem, gente,  como o Brasil era machista — mas ainda continua.  Com esse pseudônimo, a escritora iniciou sua carreira literária. Anos mais tarde, publicou sob seu nome  verdadeiro e se tornou  autora do livro mais vendido de todos os tempos da Coleção Vaga-lume. 


Sim, estamos falando de Maria José Dupré,  escritora que vendeu mais de 5 milhões de exemplares do livro “A ilha perdida”. Consegue imaginar essa cifra?  Mas ela não parou por aí, publicou muito mais. Só para lembrar outro sucesso,  “Éramos Seis”, livro que se transformou em novela, filme, teatro  e foi o primeiro romance brasileiro traduzido para o sueco.


Mas ouço falar muito pouco de Maria José Dupré. Pesquisei e encontrei uma rua com seu nome na cidade de Fortaleza, Ceará.


Sim, o apagamento de mulheres é uma prática comum, trouxe dois exemplos de escritoras, mas poderia ter citado de quaisquer outras áreas.


O que podemos fazer para a mudança desse comportamento da sociedade? Comecemos em casa, com nós mesmos,  com nossos filhos, maridos/esposas e demais membros. É necessário conhecer, registrar e divulgar os feitos das mulheres, suas lutas, suas ideias, suas estratégias de solidariedade e enfrentamento, para que nos registros da posteridade recebam o reconhecimento merecido.


Sabem o que fortalece o reconhecimento, no caso de escritoras? É ler e divulgar seu trabalho. As redes sociais são um bom espaço para isso.


E se você gosta de fofocas literárias,  siga a nossa página no IG, @totalmenteliterárias. Lá discutimos assuntos literários, damos dicas de livros e rolam umas fofoquinhas, literárias, é claro.





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23 comentários

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Clarice Soares Barreto
18 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

O conto Ovo-presente, não é de chorar porque é triste, mas porque atenta para uma geração prática e sem olhos para a afetividade. Saudades do tempo de presente "ovo" e do azul! Parabéns 👏 👏

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Convidado:
19 de jun.
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Gratidão pela leitura atenta, Clarice. Beijos.

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Convidado:
18 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Que texto necessário! O apagamento das mulheres vale a pena ser lembrado sempre. E é isso mesmo, entrar "no modo ação" : ler e divulgar nossas mulheres maravilhosas! Parabéns! 👏 👏

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Convidado:
19 de jun.
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Gratidão pela leitura e comentário. Abraço.

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Maria Pupa
18 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Parabéns Ilma por trazer esta reflexão, mas o apagamento feminino ultrapassa o campo literário. Está presente na ciência, na academia, na vida profissional, na administração pública e na política. As referências e os tratamentos dispensados as mulheres ocupantes de cargo de direção em geral são muito depreciativos.

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Convidado:
19 de jun.
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Sim, Pupa, meu texto aponta apenas um viés, o literário. Esse é um assunto não esgotado e um texto só não é capaz de esgotá-lo. Gratidão pelo comentário. Abraços.

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Flávia Côrtes
18 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Sempre muito bom ler você, Ilma! Aqui em Salvador temos algumas ruas, avenidas e afins com nomes de mulheres, mas longe de ser a maioria. A tentativa de apagamento continua, infelizmente.

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Ilma Pereira
18 de jun.
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Flávia,

Gratidão pelo comentário. Acredito que esses espaços tendem a aumentar, mais reconhecimento para as mulheres em todos os espaços. Beijos.

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Joseani Vieira
18 de jun.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Excelente reflexão. A lista de apagamento da voz feminina é longa. Cito Julia Lopes de Almeida que além de escritora foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, mas não teve direito a uma cadeira, sentando-se nela seu esposo. A primeira cordelista brasileira, Maria das Neves, assinou seu cordel com um pseudônimo masculino, sendo reconhecida por seu feito e tendo o verdadeiro nome incluído na obra quase no final da vida. Concordo com você, devemos ler e divulgar mais e mais obras assinadas por mulheres, uma forma de minimizarmos o silenciamento imposto às nossas vozes por tanto tempo. Parabéns por nos levar a essa reflexão.

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Ilma Pereira
18 de jun.
Respondendo a

Joseani,

A lista é longa, a prática é dolorosa, mas vamos acreditar que dias melhores virão. Gratidão pela leitura e comentário.

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