O PREÇO DO PRAZER
- CARLA KIRILOS

- 1 de ago.
- 3 min de leitura
Ler o livro “Nação Dopamina”, da psiquiatra Anna Lembke, é como acender uma luz incômoda dentro de um quarto em que preferíamos continuar no escuro. Página após página, ela escancara a realidade de uma sociedade viciada — não apenas em drogas, mas em tudo aquilo que oferece prazer fácil, rápido e constante: redes sociais, séries, compras, comida, pornografia, sucesso. Vivemos no auge do excesso, e ainda assim, estranhamente insatisfeitos.

A tese é dura, mas necessária: quanto mais nos entregamos a estímulos dopaminérgicos, mais nosso cérebro se desregula, buscando sempre uma próxima dose — como um poço sem fundo. Em busca do prazer constante, nos tornamos intolerantes à dor, ao tédio, ao vazio. E, nesse ciclo viciante, vamos nos perdendo de nós mesmos.
Pode parecer repetitivo, mas observando o cotidiano com um olhar mais crítico, reparo que, dias atrás, entrei no elevador e ninguém disse bom dia. Provoquei. Mas não obtive resposta. Percebi que não era falta de educação, mas simplesmente porque todos estavam com os olhos afundados nas telas, dedilhando como quem roça os dedos em uma máquina de caça-níqueis. Cada toque uma esperança de recompensa: uma curtida, uma notificação, uma mensagem que alivie — ainda que por segundos — o vazio invisível que nos habita. Impressionante!
Compreendi então, claramente, o que a psiquiatra Anna Lembke, afirma em seu livro: Vivemos dopados. Não por drogas ilegais, mas por doses diárias de dopamina socialmente aceitas. E isto choca! A dor virou inimiga, o tédio virou pecado e o silêncio, uma ameaça.
O que antes era prazer agora virou vício. E o que antes era vício agora virou normal.
No passado, o esforço vinha antes da recompensa. Hoje, a recompensa está a um clique — sem esforço, sem espera, sem construção. Mas também, sem profundidade. Queremos o doce sem suportar o amargo. Queremos o cume da montanha sem a caminhada. Queremos tudo, e queremos agora.
“Nação Dopamina” nos lembra que o cérebro busca equilíbrio, e que anestesiar toda forma de desconforto é, paradoxalmente, o que nos leva ao sofrimento profundo. Quanto mais prazer imediato buscamos, mais alimentamos a dor silenciosa que se instala nos bastidores.
Temos medo de ficar sozinhos com nossos próprios pensamentos. Medo de parar. Medo de sentir. Mas será que viver dopado é, de fato, viver? E será que temos noção do que estamos fazendo? O livro é um alerta cortante.
A sabedoria antiga já dizia que é no deserto que se ouve a voz de Deus. Mas hoje, não suportamos nem dois minutos de fila sem checar o celular. Desaprendemos a estar. Desaprendemos a ser.
Talvez seja hora de reaprender. De fazer jejum — não só de comida, mas de estímulos. De olhar nos olhos, caminhar sem fones, ouvir o silêncio até que ele fale. De trocar a euforia pela serenidade. Porque a felicidade que vale a pena, quase sempre, não vem embalada em dopamina.
E, ao escrever este texto, ainda impactada pela leitura do livro acima citado, deixo aqui, como reflexão, um versículo bíblico que se encaixa bem com tudo isso e que diz: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12:2)
A renovação que tanto buscamos talvez não esteja em mais uma notificação. Mas na pausa. No vazio fértil. No reencontro com o que realmente importa.
Que o Senhor continue renovando nossa mente e sensibilidade com discernimento e verdade — mesmo em tempos de tantos ruídos. Vigiemos!
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"Desaprendemos a estar. Desaprendemos a ser." Que triste a nossa realidade, Carla! Que feliz o seu texto, que nos provoca essa reflexão tão necessária e urgente. O seu texto me levou a outra reflexão bíblica, que está em Filipenses 4: 6 e 7: "Não andeis ansiosos por coisa alguma... E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus." E que, com essa consciência, tenhamos paz em nossos dias!
Carla, seu texto explica muito bem porque a dopamina, que está ligada a sensações de recompensa e bem estar, é conhecida como “hormônio da felicidade “. Como se tudo fosse só um clique… Muito bom! Luiza
Uma reflexão valorosa! Resumo do mundo que vivemos! Alerta para mudanças o quanto antes! Preocupação com as crianças e Jovens! Entendimento das mensagens de Deus 🙏 ❤️ Parabéns,Carla. Sandra Tenório. Maceió
Texto ótimo. Infelizmente esse vício dos últimos tempos tem se expandido em meio as famílias brasileiras. Dopamina realmente é um viver momentâneo 😿
A vida passa por ciclos, ciclos que ora duram pouco, ora duram mais…E sinto, vejo as pessoas sumindo das redes por opção de sumir, mesmo quando a opção não tenha sido gestada por ela, mas por alguém que abriu a porta da saída por onde milhões de seguidores passarão abrindo caminho para novo ciclo…A cada declaração “vou me afastar”, nasce a possibilidade de renovação e ando escutando bastante isso.
Namastê!